Procissão das Almas (Mariana-MG)
A lenda conta que existia uma senhora chamada Maricota de Todos os Santos, muito maledicente, que vivia na janela de sua casa vigiando a vida alheia. Depois de aprontar muita confusão no bairro São Gonçalo, mudou-se para a Rua Dom Silvério, e receosa de ser novamente expulsa, só vigiava a rua depois que o sino da Casa da Câmara tocava às 21h, mandando que todos se recolhessem em suas casas. Com calos nos cotovelos de ficar debruçada na janela, ficava ela observando quem ia e quem vinha. Até que em uma sexta-feira santa, ela que sempre foi muito religiosa, observou se aproximar uma procissão e ficou confusa de como poderia ela não estar sabendo. Resolveu então ficar na janela pra ver quem estava na tal procissão. Até que conseguiu ver de perto: eles usavam roupas pretas, todos com uma vela na mão, e o primeiro da fila segurava uma enorme cruz preta. Além dos trajes, ela escutava um som pausado de bumbo, bem fúnebre, uma matraca, gemidos, gritos lancinantes e os cantos: “Reza mais, reza mais, reza mais uma oração; Reza mais, reza mais pra alma que morreu sem confissão” e “Reza mais, reza mais, reza novena e trezena; Reza mais, reza mais pra alma que morreu sem cumprir pena”.
Um pouco assustada com a estranheza da procissão, ela continuou na janela a observar, até que um dos participantes saiu de onde estava e foi em sua direção com a vela acesa, pedindo-lhe que guardasse a vela que ele logo voltaria para buscar: “Mulher, guarde sua língua, a noite é dos mortos. Guarde esta vela pra mim, eu volto pra buscar” e se juntou aos outros.
Horrorizada, a velha senhora persignou-se e rezou o credo com devoção e fervor, repetindo esse procedimento algumas vezes durante o dia. Um longo dia, por sinal, mas que finalmente se foi, como é o destino inexorável de todos eles.
Quando a procissão voltou, o participante pede a vela e fala com ela: “Mulher, amanha estaremos juntos em outras paragens, mas guarde sua língua, a noite é dos mortos”,
E então, pouco antes da meia-noite, ela, trêmula de medo, devolveu os ossos e duas velas bentas à figura embuçada que lhe apareceu diante da janela, recebendo da mesma a seguinte recomendação:
”Que isto te sirva de lição, pois a Procissão das Almas não é para ser vista pelos viventes”.
passa mal e morre logo depois mesmo sendo socorrida pelo padre e por um médico.
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Dizem que a Procissão das Almas, em Mariana, é baseada nessa lenda, e por isso os devotos que dela participam usam os mesmos trajes e aparatos descritos pela senhora que presenciou a Procissão das Almas.
O cortejo é depois da meia noite
As roupas brancas são por que quando a procissão foi reativada, há uns 25 anos atrás, a luz era fraca e o farol dos carros não era lá aquelas coisas. São duas lendas em uma só encenação. A procissão é folclórica, mas ao mesmo tempo piedosa e reza pelos que já se foram.
A Procissão das Almas, em Mariana MG, é única no Brasil. Desde 1850 ela acontece na noite de sexta da paixão, mais exatamente às 00h05 do sábado de aleluia, pelas ruas do centro histórico da cidade. Atualmente organizada pela Academia Infanto Juvenil de Letras e Movimento Renovador, participam da encenação os selecionados pela organização e pode acompanhar a procissão o público em geral.
Com orações, cantos e trajes, a Procissão das almas mistura folclore com religião, fé e lendas, e mais ainda a força de manter vivas as tradições da cidade mais antiga de Minas Gerais.
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Uma outra lenda tambem deu origem ao cortejo sendo as 2 mescladas :
A outra lenda encenada na mesma procissão é de uma senhora que trabalhava ajudando o padre. Ela vivia na Igreja e se sentiu ameaçada com a contratação de um moça recém formada que iria ajudar o padre nas escrituras da paróquia.
Muito enciumada, a senhora começou a espalhar boatos a respeito da moça, dizendo que ela estava namorando o padre, mas ninguém acreditava. Então ela foi mais longe: roubou os sapatos do padre e colocou-os embaixo da cama da moça, obtendo assim um fato concreto, pois todos acharam que o padre havia esquecido os sapatos ali após ter dormido com a auxiliar.
Foi um escândalo, a moça foi expulsa de casa, o noivo não a quis mais e ela foi embora da cidade, virou andarilha.
Anos mais tarde a moça retorna ao distrito, maltrapilha, faminta e para na primeira casa que viu para pedir um copo de água. A dona da casa vai buscar e, quando volta, encontra a moça morta na calçada.
Organiza-se um velório, convidam as pessoas do lugarejo e quando a senhora maledicente da igreja adentra o recinto a defunta se senta no caixão e diz: “Está aqui entre nós quem me levantou um falso”. Todos saem correndo, obviamente, e a senhora desesperada procura o padre para se confessar.
Ele por sua vez lhe aplica uma penitencia inusitada: ela teria que recolher as penas de todas as casas de Mariana. Como não havia naquela época um abatedouro municipal, as pessoas matavam suas aves em casa e sempre tinham penas no quintal. Depois de muito tempo recolhendo as penas de casa por casa, conseguiu finalizar o que ela pensava ser a penitencia.
Só que tinha mais.
Então o padre explicou: “Agora leve todas as penas para o alto do morro do Galego, espere um vento forte espalhar todas as penas. O dia em que você catar a última pena, está remida de seus pecados.”.
E assim contam que até hoje ela está por aí catando as penas que o vento espalhou.
E é juntando essas duas lendas que é montada todos os anos a procissão das almas. Com orações, cantos e trajes, a Procissão das almas mistura folclore com religião,fé e lendas.
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